26.2.07

216 milhões de norte americanos são analfabetos científicos

A boa notícia: a percentagem de norte-americanos alfabetizados científicos subiu dos 10% em 1988.

A má notícia: A percentagem continua baixa 28%.

"A ignorância se alimenta de ignorância" - Carl Sagan

histórico

Vamos começar falando do histórico da pesquisa que afere o nível de entendimento da população norte-americana quanto aos assuntos relacionados à ciência e tecnologia.
Segundo os critérios da pesquisa alfabetizados científicos não precisam ter um profundo conhecimento das equações de Maxwell ou da Teoria Geral da Relatividade, mas precisam ter uma noção geral dos conceitos e dos métodos científicos.

A primeira pesquisa nacional norte-americana a respeito do analfabetismo científico foi completada dois meses antes do lançamento do Sputnik 1, em 1957, servindo como medida a respeito das opiniões públicas relacionadas a ciência antes do início da corrida espacial.

A partir de 1977, Jon D. Miller, cientista político da Universidade Estadual de Michigan, começou a conduzir a pesquisa tentando replicar as perguntas utilizadas na primeira pesquisa, como a respeito do Estrôncio 90 (um elemento radioativo produzido a partir dos testes de bombas nucleares) e a vacina contra a Pólio – temas que dominavam as notícias naquele período, no entanto, foi claro que perguntas baseadas em manchetes de jornal não podiam dar a noção da variação do nível de alfabetização científica no decorrer do tempo, "é preciso encontrar medidas mais duráveis,"ele diz.

Então foram desenvolvidas questões envolvendo átomos, moléculas e outros conceitos básicos. Os resultados destas pesquisas servem como base para as políticas de C&T produzidas pelo legislativo e executivo federais norte-americanos e são publicadas pela National Science Board.

Prováveis boas notícias

Em somente 18 anos, mais de 50 milhões de pessoas entraram para o conjunto de americanos que conseguem ler e entender uma notícia de jornal envolvendo ciência e tecnologia, de acordo com pesquisa apresentadas na semana passada no encontro anual do American Academy for the Advancement of Science's em São Francisco.

Jon D. Miller, atribuiu parte do crescimento dos alfabetizados científicos às faculdades, pois diversas delas recentemente obrigaram os estudantes a terem ao menos um ano de curso de ciências, como química, física e matemática para qualquer curso de graduação.

Miller diz também que o acréscimo do conhecimento em ciência pela população se deu através de aprendizado informal: lendo artigos e assistindo reportagens a respeito de temas científicos na internet e na televisão.

O entendimento da população a respeito de antibióticos, por exemplo, cresceu vertiginosamente nos últimos 18 anos.Em 1988, apenas 26% dos adultos norte-americanos sabiam que antibióticos não matavam vírus e bactérias. Em 2005, 54% sabiam que antibióticos matam apenas bactérias.

Certas más notícias

Tudo bem, agora vamos falar dos aproximadamente 200 milhões de norte-americanos que não conseguem ler uma simples notícia na seção de ciência do New York Times ou do Washington Post e entender o mínimo a respeito do DNA, de nanotecnologia ou sobre o aquecimento global.

Este nível de analfabetismo científico pode explicar porque apenas de 14% dos norte-americanos aceitam a Teoria da Evolução das Espécies e aproximadamente 20% da população dos Estados Unidos da América, quando perguntados se a Terra orbita ao redor do Sol ou o contrário e qual o período de translação, dizem que o Sol gira em torno da Terra e não sabem o em quanto tempo a Terra percorre a órbita solar– estatísticas que colocam estas pessoas no mesmo lado da Inquisição que puniu Galileu Galilei há 400 anos atrás.

Isto também explica a distância homérica entre cientistas e parte do público a respeito das pesquisas feitas atualmente como: nanotecnologia aplicada na indústria têxtil produzindo tecidos resistentes à manchas e que não amassam e a utilização de organismos geneticamente modificados em plantações agrícolas.

Como Carl Sagan disse eloqüentemente no "O Mundo Assombrado Pelos Demônios", a ignorância reina na nossa sociedade num momento em que a ciência está no auge da produção de conhecimentos incríveis e maravilhosas, mas também possivelmente de conseqüências perigosas.Ignorância, diz Sagan, não é uma opção.

Este cenário é problemático numa democracia que assume que a sua base é o conhecimento. Vivemos numa sociedade na qual uma pequena elite conhece e entende o essencial da ciência que transforma a nossa forma de viver, enquanto o restante da sociedade usa e depende da ciência sem conhecer o mínimo a respeito.

Esta situação pode levar os analfabetos científicos a se tornarem temerosos quanto à ciência e tecnologia, ressabiados quanto aos interesses das elites, poderão exigir a desaceleração das pesquisas científicas, ou até mesmo a sua interrupção.

Ou o oposto pode ocorrer: a elite científica pode crescer frustrada com os analfabetos científicos e tentarão controlá-los.

As forças da ignorância já silenciaram a ciência no decorrer da história, desde a horda que na antiga Alexandria expulsou o astrônomo Aristarco da cidade por ter proposto o heliocentrismo, até as atuais restrições de verbas federais, provocadas por grupos religiosos, para a pesquisa de células tronco.

Para calcular a extensão que o fundamentalismo religioso alcançou na sociedade norte-americana, Miller fez uma pesquisa entre adultos com as seguintes três perguntas:

a Bíblia é a palavra de Deus e deve ser lida literalmente?

Existe um Deus pessoal que é responsável por cada oração de todos homens e mulheres?

Os seres humanos foram criados por Deus já na forma atual e não evoluiu de outras formas de vida?

Em 2005, 43% dos norte-americanos adultos concordaram com as três perguntas.


Darwin injuriado





A elite utilizar o seu conhecimento científico para dominar a população também não é algo novo. As elites Maias, por exemplo, usavam seu extraordinário conhecimento em matemática, engenharia e astronomia para construir grandes templos e cidades – e produzirem calendários com a previsão de eclipses solares - para atemorizar e controlar as massas através de uma religião que exigia ritos de sacrifício.

Os europeus durante a era colonial utilizavam armas de fogo e navios capazes de cruzar oceanos para ocupar territórios dos chamados "povos selvagens".

Pseudo-Conclusão

A era da ciência apartidária acabou,devemos os cientistas e os educadores aprender as regras da política para continuar estudando e ensinando ciência.

Talvez possamos lançar uma campanha contra o analfabetismo científico semelhante à lançada nos meados do século XX e que triplicou a percentagem de alfabetizados no mundo inteiro.
A questão é, a população está realmente interessada em saber como celulares e computadores funcionam ou como os organismos agem?

E no Brasil, quais são os números? Qual é a nossa taxa de analfabetos científicos?
Quantos sabem o que e um organismo geneticamente modificado?

E os cientistas e os que controlam o conhecimento científico querem dividir, isto é, gastar algum tempo, e talvez utilizar parte do seu conhecimento para dar acesso ao saber?

Em outras palavras, é um problema global o analfabetismo científico permanecer nestas bases ou não?

Um comentário:

George Bezerra disse...

Grande dudarov! Qual o problema no analfabetismo científico? Pergunto sinceramente. O que vc acha que vai acontecer se as pessoas forem mais informadas cientificamente?

A ciência é só uma perspectiva como muitas outras, e a diversidade de perspectivas é que importa. Se quisermos colocar a ciência como a nossa instituição moral, tudo bem. Os gregos tinham arte e filosofia regendo moralidade. Mas isso vai ser uma possibilidade dentre as várias existentes. Porque não se pode conceber a humanidade inteira vivendo sob o mesmo sistema moral. Quanto mais quisermos moralizar a ciência, quanto mais ela lutar "contra" religião, mais difícil ela será de ser difundida. A ciência como instituição neutra em termos de moralidade vai ser aceita em qualquer lugar, mas no momento em que ela quiser decidir entre o bem e o mal, muita gente não vai gostar e vai torcer o nariz pra ela no mundo inteiro.

Palavras sabias do nosso colega Dostoiévski:

"Reason has never had the power to define good and evil, or even to distinguish between good and evil, even approximately; on the contrary, it has always mixed them up in a disgraceful and pitiful way; science has even given the solution by the fist. This is particularly characteristic of the half-truths of science, the most terrible scourge of humanity, unknown till this century, and worse than plague, famine, or war. A half-truth is a despot .. such as has never been in the world before. A despot that has its priests and its slaves, a despot to whom all do homage with love and superstition hitherto inconceivable, before which science itself trembles and cringes in a shameful way."

Tomou?

Abracos.